sexta-feira, 24 de julho de 2020

Mãos de um adolescente obreiro


                                     Alexander Green


A um rapaz do meu bairro,

com quem coincidi

três vezes no ônibus.

 

Mãos vigorosas, fissuradas, sujas,

mãos ardentes e seguras

de um adolescente obreiro

que agora agarram, juntos às minhas,

a barra de um ônibus.

 

São tuas mãos tão belas, rapaz,

que apenas me contenho:

ásperas, curtidas, fortes.

Não parecem as mãos de um menino!

O que terão tocado?

O que teriam feito?

 

Humildes embora hábeis,

serenas mas enérgicas,

são as mãos do futuro

e da esperança.

Tão próximas estão de mim,

que quase me tocam,

e eu as queria beijar,

acariciar morbidamente e com veemência.

Ou, simplesmente, apertá-las contra mim

para sentir seu calor e sua segurança,

para desvelar outra vez suas experiências,

seus contatos mais impudicos,

suas aberrações mais secretas.

Seguir a pegada de tua infância:

de tudo aquilo que sentiram,

roçaram, possuíram,

desarmaram ou construíram,

em múltiplos trabalhos ou jogos,

tuas mãos.


De Pedro Menchén do livro Cantos de desesperación y amor

Tradução de Alexandre Bonafim


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